quinta-feira, 20 de maio de 2010

001 - Basílica de Nosso Senhor do Bonfim







Local: Sagrada Colina do Senhor do Bonfim, Bairro do Bonfim, Penísula de Itapagipe, Cidade Baixa, Salvador - BA

Construção: Séc. XVIII (1772) - Estilo Barroco

Imagens em destaque: Nosso Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Guia

Curiosidades: A DEVOÇÃO DO SENHOR BOM JESUS DO BONFIM, na Bahia, datada de 1745, teve como introdutor o Capitão de Mar e Guerra da Marinha Portuguesa, Theodozio Rodrigues de Faria, fervoroso devoto do Senhor do Bonfim, tão venerável na cidade de Setúbal, em Portugal. A cidade de Setúbal fica localizada ao sul do Rio Tejo, a 30 Km de Lisboa, e a sua Igreja do Senhor do Bonfim está situada na planície do Campo Barbuda, construída entre os anos de 1669 a 1670.

Foi o Capitão Teodózio Rodrigues que, em viagem para o Brasil, em 1745, trouxe de Lisboa uma imagem do Senhor Crucificado, semelhante a que se venerava na capela das vizinhanças de Setúbal, com a intenção de continuar aqui no Brasil a sua devoção. A imagem era esculpida em cedro com um metro e dez centímetro de altura. Trouxe também a imagem de Nossa Senhora da Guia, esculpida em madeira, medindo noventa e cinco centímetros. As imagens foram abrigadas provisoriamente na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, localizada na Penísula de Itapagipe, em Savador - Bahia.

No Domingo de Páscoa da Ressurreição, que naquele ano caira no dia 18 de abril, com admirável solenidade, as imagens foram expostas à adoração dos fiéis na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França. Todas as despesas foram realizadas pelo Capitão Theodozio. Entronizada que foi a imagem do Senhor do Bonfim, na Capela da Penha, e já requerida a licença para fundar a Irmandade, tendo a frente o Capitão Theodozio, publicaram a primeira eleição naquela mesma data.

A primeira Mesa Administrativa da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim ficou assim constituída:
Juiz – Antonio Rodrigues Lisboa;
Escrivão – João Ferreira dos Santos;
Tesoureiro – Heyronimo de Araújo Pimentel;
Procuradores – Josephe Luiz Vyeira e Antonio dos Reiz;
Zelador Benfeitor – Capitão de Mar e Guerra Theodozio Rodrigues de Faria;
Ainda faziam parte da Mesa Administrativa, 30 Mordomos de Terra e 22 Mordomos de Mar.

Desse modo iniciou-se a Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim na Bahia com a finalidade de perpetuar de modo mais fervoroso o culto ao Senhor do Bonfim.

A devoção pelo Santo cresceu assustadoramente, animando a Devoção a escolher um lugar de destaque onde se pudesse erigir uma Capela exclusiva para o Senhor, em local elevado e de destaque e não muito distante da cidade, para ser mais acessível aos fiéis que de qualquer lugar a procurassem. O local escolhido foi o Alto do Montserrat, hoje chamado Alto do Bonfim. A construção foi logo iniciada, sendo concluídas as obras parciais (internas) da Igreja, no dia 24 de junho de 1754, quando foi transladada a imagem do Senhor do Bonfim da Capela da Penha para sua própria, em grande e majestosa procissão. Também foi levada a imagem de Nossa Senhora da Guia, entronizada em um nicho, ao pé da Cruz do Nosso Senhor do Bonfim.

A construção da Igreja do Senhor do Bonfim foi iniciada no ano de 1746, com proporções de templo. Sua fachada muito alta, e que de dia refletia o Sol e a noite era um templo solitário. Construída que foi, num local, que por sua beleza e condições topográfica, permite ser visto de muitos pontos da cidade de Salvador. A área do largo onde foi erigida a Igreja, bem como as dos arredores foi doada ao Senhor do Bonfim, tempos depois - 15 de novembro de 1788 - por D. Joana Teodora de Oliveira Serpa, que nessa data, com seu marido o Capitão João Soares Nogueira, ratificou a doação feita em 1752.

As torres da Capela foram feitas posteriormente ao templo, sendo concluídas em 1772. Por duas vezes essas torres foram atingidas pela ação dos raios e para acabar com o problema, foi colocado em uma delas um para-raios, e outro no cruzeiro, localizado no fundo da Igreja, iniciativa do Dr. José Eduardo Freire de Carvalho Filho, então tesoureiro da Devoção, no ano de 1884.

Os sinos existentes na Igreja, de magnífico som, já não são mais os originais, pois, em 1884, Dr. José Eduardo, encontrando-os rachados mandou refundir os mesmos, trabalho este efetuado pelo grande artista Capitão Manuel de Vargas Leal, ficando a obra perfeita, conservando os primitivos sons.

O templo, ao longo dos anos, sofreu várias reformas, e desde os seus primórdios recebeu muitos presentes dos devotos do Senhor do Bonfim, onde destacamos o sacrário da Capela-mór, todo em prata lavrada, oferta do Coronel Miguel José Maria de Teive e Argolo, no ano de 1860. Outras ofertas foram recebidas, como o órgão doado por D. Feliciana de Brito Lopes Alves em 1854; o aparelho de prata da Cruz do Senhor do Bonfim, vindo da cidade de Porto em Portugal, ofertado pelo Conde de Passé em 1853. O relógio foi doado pelo então Tesoureiro Sr. Joaquim Alves Cruz Rios, em 1844, na época uma peça rara na Bahia, foi colocado na torre direita do templo, com grande mostrador e que bate hora, meias e quartos, com sons diferentes. Seu maquinário ocupa um espaço de 1 metro cúbico e recebe corda uma vez por mês. Outra doação de grande valia, foram as grades de ferro que circundam a Igreja pela linha dos degraus, foi ofertada pelo Sr. José Pinto Rodrigues da Costa. Muitas e muitas outras doações foram chegando para a Igreja do Bonfim.

A arquitetura do templo obedeceu ao modelo comum das igrejas portuguesas do século XVII e XVIII e seu conjunto assemelha-se ao estilo renascença. A sua fachada apresenta a parede revestida de um azulejo de cor amarela, e, tem seu corpo central mais longo que os laterais, possuindo três portas, sendo a do meio mais alta, correspondendo, a cada uma delas, uma janela no pavimento superior. Nos corpos laterais da fachada, correspondentes às torres, tem cada uma sua janela. E as torres são divididas em dois corpos: o primeiro, baixo, onde se encontra o relógio na torre do lado direito, e há um óculo na torre do lado esquerdo.

O interior da Capela é constituído de uma só nave e sete altares e no piso, no centro do templo, encontra-se, a lápide, jazigo do Capitão Theodozio, com a seguinte inscrição: “AQUI JAZ O CAPP. DE MAR E GUERRA THEODOZIO RODRIGUES DE FARIA PRIMEIRO BEMFEITOR DESTA IGREJA FALLECEU EM 22 DE JANEIRO DE 1757”.

O altar mór onde está entronizada a imagem do Senhor do Bonfim, fica no fundo do templo, na Capela-mór, sendo um majestoso trono, com sete degraus trabalhados em obra de talha dourada. Na parte superior do altar mór, encontra-se o trono com a imagem do Senhor do Bonfim em sua Cruz aparelhada de prata e dentro de um nicho de colunas de metal prateado e dourado em seus relevos. No segundo degrau do trono, a contar de baixo para cima, ou mais abaixo da imagem do senhor do Bonfim, está a imagem de Nossa Senhora da Guia, dentro de um nicho de madeira (cedro), entalhada e dourada e colocada no mesmo dia em que foi a do Senhor Crucificado. Sobre esse nicho, tem uma custódia feita de madeira dourada, onde está um cravo igual, uma réplica, aos com que pregaram Jesus Cristo na Cruz e que foram achados por Santa Helena, no ano 326, quando teve a felicidade de encontrar a verdadeira Cruz em que Jesus foi crucificado. O cravo existente foi oferta do Sr. D. Jerônimo Tomé da Silva, em 15 de dezembro de 1895.

A nave é separada da Capela-mór por um arco. À direita desse arco há um altar de madeira pintada de branco e dourado onde se encontra a imagem do Sagrado Coração de Jesus. À esquerda há outro altar, igual ao primeiro e nele foi colocada a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte. Encontramos também duas ordens de grades de ferro separando os altares laterais do centro da Igreja, sendo dois altares à direita e dois à esquerda de quem entra no templo. As obras da Capela-mór foram iniciadas em 1814, pelo entalhador Antonio Joaquim dos Santos. O arco da Capela-mór, que constitui a entrada da mesma, é também chamado de Arco Cruzeiro, tem seu pedestal de pedra (cantaria) vinda de Lisboa, pilastra de cedro, capités (parte superior da pilastra), cornijas e as arcadas, tudo ressaltada com talha dourada sobre fundo branco.

O teto do corpo da Igreja, é todo forrado de cedro e ornado com belíssima pintura a óleo criação e trabalho do notável pintor Antonio Joaquim Franco Velasco, baiano de nascimento, elaborado em 1818.

O piso térreo da Igreja é todo em mármore, e, além da sepultura do Capitão Theodozio, existem mais seis jazigos, em forma de paralelogramo, situadas de cada lado da nave, próximo ao altar das imagens de N. S. da Boa Morte e do altar do Sagrado Coração de Jesus, ambas localizadas nos nichos dos altares do arco da Capela-mór.

As imagens entronizadas nos altares laterais do templo estão assim distribuídas:
A imagem de Senhora Santana e São Joaquim ocupa o nicho do primeiro altar á direita de quem entra na Igreja; a de São José ocupa o nicho do segundo altar do lado direito de quem entra; a imagem de Santo Antonio está colocada no nicho do primeiro altar do lado esquerdo de quem entra na Igreja; a imagem de São Gonçalo dos Amarantes ocupa o nicho do segundo altar do lado esquerdo de quem entra no templo.

As imagens colocadas nos altares do arco da Capela-mór: A imagem de Nossa Senhora da Boa Morte ocupa o nicho situado lado esquerdo do arco da Capela-mór e a imagem do Sagrado Coração de Jesus, fica do lado direito do arco da capela-mór. A Capela-mór, pelo seu lado direito se comunica por uma porta com a Sacristia, e pelo o oposto, por uma porta fronteira a esta, dá entrada na Casa dos Milagres e a sala de batismo.
Os altares laterais da Igreja, foram concluídos no final de 1817, e o trabalho de douramento, bem como os quadros representando passos da paixão de Cristo, foram executados também pelo artista Franco Velasco.

De cada lado do corpo central da Igreja, existem dois corredores, um que fica localizado no lado direito de quem entra, e dá acesso a Capela de Santa Feliciana, a sala de batismo e a sala dos milagres. Nessa sala, tem uma escada de madeira que se comunica com o Museu dos Ex-Votos (Museu Rubem Freire de Carvalho Tourinho) e também com as tribunas de honras, tudo localizado no primeiro andar da Igreja. O outro corredor que fica situado do lado esquerdo de que entra no templo, dá acesso a Sacristia e, subindo uma escada, também de madeira, deparamos no primeiro andar, com o Consistório da Igreja, as tribunas de honras e ao Coro, que fica de frente para a Capela-mór, onde a orquestra e coral enchem aquele local durante os eventos religiosos, sob a batuta de um maestro de reconhecido mérito, executando partitura das mais belas músicas sacras. Esses corredores, cujos pisos também revestidos em mármores, possuem quatro portas cada, sendo que três dão acesso ao templo e uma dá acesso á rua. As paredes dos corredores da Igreja, até determinada, altura são revestidas de azulejos pintados com motivos religiosos, que foram restaurados em 1873.

Além do pavimento térreo e o primeiro andar, existe uma escada que dá acesso ás torres, sendo que em uma delas -lado direito- estão localizados os sinos.
Na Sacristia, encontramos um conjunto de peças raras (móveis, pia batismal, etc), e uma coleção de quadros famosos, trabalho do grande artista José Teófilo de Jesus, pintor de bons recursos técnicos, nascido em Salvador e falecido aos 90 anos, em 1874. Na sala do Museu de Ex-Votos, no primeiro piso, encontramos um acervo muito grande de objetos valiosos, jóias, alfaias, etc., além de uma coleção belíssima de quadros pintados pelo artista José Teófilo de Jesus.

A Basílica do Bonfim, como também assim é chamada, foi construída às expensas da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, a qual é responsável pela administração não só do templo, como também de todos os bens patrimoniais pertencentes ao Senhor do Bonfim, como as Casas dos Romeiros, Centro Comunitário e outros imóveis localizados fora das cercanias.

A Mesa Administrativa da Devoção, é constituída pelos dignitários (Juiz, 1º Tesoureiro, 2º Tesoureiro, 1º Escrivão, 2º Escrivão, 1º Procurador, 2º Procurador), pelo Conselho Econômico e Fiscal e pelos Irmãos Mesários, perfazendo um total de 33 Membros, todos eleitos em assembléia geral, para um mandato de três anos.

A parte religiosa da Igreja, fica sob a égide de Reitor e Capelão da Basílica, sacerdote designado pela Arquidiocese de Salvador, auxiliado pelo Vice-Reitor, Diáconos, etc. Não podemos esquecer a grande colaboração dada nas missas e festas, pelo Centro do Apostolado da Oração, uma confraria religiosa, fundada em dezembro de 1920, cujo culto é voltado para o Sagrado Coração de Jesus e que presta valoroso auxilio nas atividades da Igreja.

Além das missas diárias, missas festivas, bodas, etc. a Basílica do Bonfim fica aberta diariamente para visitação pública, excetuando as segundas-feiras, que é fechada para limpeza, Não poderia o tão festejado Santo ter a sua festa sem os precedentes de uma novena, sempre celebrada a noite. Começa com a novena em louvor ao Senhor do Bonfim, em seguida a de Nossa Senhora da Guia e finaliza com o tríduo de São Gonçalo do Amarante, todas realizadas durante o mês de janeiro. O ciclo de festas religiosas é muito concorrido, e faz parte também do calendário anual, além das novenas supracitadas, a festa do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora da Boa Morte e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e outros eventos religiosos.

Assim nasceu, cresceu e vive a BASÍLICA DO NOSSO SENHOR DO BONFIM, maior cartão-postal do Estado da Bahia, Brasil.

(texto: Maru Gomes / fotos: Mario Gordilho)

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